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ANOTAR! APONTAR! APAGAR! [10 itens em 10 minutos]

Maria Moreira

ANOTAR! APONTAR! APAGAR! [10 itens em 10 minutos]

• uma ótima exposição — apresenta um novo patamar não na produção mas na coreografia da recepção; 


• duas linhagens divergentes de trabalho criando um espaço de recepção esquiso uma vontade maquínica de precisão minimalista [desenhos instalativos, ocupação dos cantos ]  versus um fascínio aderido ao mundo como infinito e excesso [formas transbordantes, massa caótica] 


• na exposição atual  a vontade maquínica dos desenhos instalativos encontrou um território comum com a vertigem pela acumulação e o transbordamento e este patamar de encontro foi nomeado “meio certo”; 


• o “meio-certo” rompe a lógica binária do ouisto ouaquilo — a multiplicidade do mundo cessa de estar em oposição a si mesma; 


• o “meio-certo” difere também do  e , pois noeo horizonte do evento esta sempre avançando ao depois — isto e aquilo e aquilo outro e outro mais — a multiplicidade do mundo é deixada como distensão infinita, indiferenciada e indiferente às nossas indagações, imune à intenções de recortes circunstanciais; 


• na manobra “meio-certo” o que ocorre é a ocupação de um tempo e um espaço pela matéria que se fez presente ali, naquele quando, sem ceder à oposição do oue sem a ansiedade por outras presenças do e; 


• o “meio-certo” é uma negociação de presenças num lugar — aqui, desenhos com viés maquínico + pequenas acumulações e rastros de gestos —  e como na configuração do próprio signo do “meio-certo”, onde pouco importa se primeiro se riscou o traço e depois a letra c ou se foi vice-versa, ou se a inclinação do traço e o ponto de cruzamento variam de versão em versão —, aqui, no espaço expositivo existe uma permeabilidade de opções, um respiro entre possíveis  no modo como os lápis se juntam em decorrência do andar dos visitantes, por exemplo; 


• esta capacidade do formato do trabalho em respirar pequenas alterações sem se deixar escapar do estado de presença é quase como uma afirmação de autonomia frente à sua criadora — Suely refaz o caminho do apagamento da borracha de vez em quando e o trabalho persiste em sua integridade porosa antes e depois dos rearranjos — isto fala de uma robustez alcançada pelo trabalho; 


• a robustez da negociação, em tempo real, com múltiplas variáveis mesmo as insuspeitas — um procedimento de acolhimento, de deixar ser , que é a manobra essencial da poética de Suely  como arte-vida — acolher, deixar ser ; 


• nesta exposição isto ocorre em tantos níveis: no convívio entre procedimentos; na lucidez em nomear um conceito adequado ao formatar de um convívio — o “meio-certo”; no espaço onde a exposição se dá — um espaço regido por artistas, espaço que também acolhe e deixa ser; e principalmente no momento histórico em que o evento ocorre, tão necessitados que estamos de acolher e deixar ser!

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