SALTITANTES
Alexandre Sá
Uma das maiores preocupações estéticas atuais é exatamente o espaço e seu não-estabelecimento. O espaço que gradativamente se dissolve para conseguir tangenciar sua própria constituição como elemento formal, como ente. Suely Farhi é um exemplo claro de artista que atravessa o espaço para investigar tudo que existe em seu entorno, sem deixar que estas questões sufoquem a realidade plástica que provoca. Seu lugar é o lugar em trânsito. Lugar desértico que, por sua vastidão e por sua inteligência, avalia o vácuo da presença mesma para redescobrir o ritmo e a alegria própria daquilo que reverbera em consistência e dança.O objeto escolhido é o prego e suas marcas, permeadas de dúvidas certeiras, como um lastro, como pegadas que se desvelam para que indiquem possibilidades outras de orientação, de traço, de impressão fundamental da expressividade humana diante do exercício infindável de conhecimento e desconhecimento de si mesmo. Os pregos não sustentam nada para além de sua concretude, embora tenham clara consciência de suportarem o mundo que os mantém ali, em exibição sem representação. Sem drama, sem exageros e sem angústias (pós?)-modernas. Optando pela simplicidade singular da existência métrica em pluralidade, repleta de pulso em partitura visual, para fazer-se som(n) em elegância, despertando o público de um sono longínquo. E então, em acordes, percebemos a subjetividade presente em todo objeto, bem como a objetividade inerente ao sujeito que nos transborda como legado histórico. Enquanto a artista sorri sinfônica, para que juntos, possamos então avistar o tal horizonte perdido de uma linguagem até então nebulosa.